sexta-feira, 20 de setembro de 2013

CAU publica resoluções arbitrárias que interferem no exercício de profissão de Designer de Interiores

Queridos seguidores e leitores deste blog, peço a vocês licença para abordar neste espaço um assunto de extrema importância para os profissionais de designer de interiores e consequentemente para os clientes. 

Presidente do CAU, Haroldo Pinheiro
Foto publicada na Revista AU
Conclamo meus amigos ARQUITETOS e ex-professores a repudiarem a postura adotada pelo CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, na figura de seu presidente Haroldo Pinheiro, contra os profissionais designers de interiores. Há dois meses entraram em vigor as resoluções nº 51 e nº 21 da CAU que deveriam especificar o trabalho de arquitetos e urbanistas, e assim garantir a esses profissionais atividades exclusivas dessa categoria profissional que deve e merece ser respeitada, porém tais documentos, em diversos itens, não passam de uma visível INTERFERÊNCIA ao exercício da profissão de Designer de Interiores, o que tem gerado perseguição do próprio Conselho a esses profissionais.

A razão VELADA do documento é uma lamentável briga de mercado que o CAU está encampando contra os profissionais de DESIGNER, profissão que existe há mais de 50 anos no Brasil e possui mais de 90 cursos de ENSINO SUPERIOR (entre tecnólogo e bacharel) reconhecidos pelo MEC.

O presidente Haroldo Pinheiro demonstra DESCONHECIMENTO ou desrespeito às grades curriculares dos cursos de DESIGNER DE INTERIORES e de ARQUITETURA E URBANISMO, pois tais grades NÃO são semelhantes e esses profissionais sempre trabalharam em harmonia durante todos esses anos, exatamente porque as profissões são diferentes, apesar de complementares. (E aqui destaco harmônicos desde que o designer realmente seja designer formado e arquiteto idem e não diversos aproveitadores que existem e se dizem "arquitetos de interiores" ou decoradores e saem por ai fazendo projetos sem nenhuma responsabilidade e ética).

A arquitetura é uma profissão GENERALISTA, voltada para o macro, à CRIAÇÃO de edificações (prédios, casas, hospitais, shoppings), entre outros importantes itens de planejamento como o urbanismo. O Designer de Interiores é uma profissão ESPECIALISTA, na qual a preocupação está voltada para o atendimento de necessidades específicas do cliente que irá ocupar determinado espaço já criado por um arquiteto. O papel do designer não é fazer construções e sim se preocupar com o conforto, segurança, ergonomia, mobiliário, projeto luminotécnico, entre outros.

Muitos professores dos cursos de designer de interiores no Brasil são arquitetos com experiência de vida na área de interiores e fazem seu trabalho seja como arquitetos ou como designers de forma muito competente. Há de se destacar que o interesse particular de cada um e suas devidas especializações foi que lhes ensinaram a trabalhar com interior, por isso esses mesmos professores sabem a importância da faculdade de Designer de Interiores na formação de profissionais para atuar nessa área NÃO CONTEMPLADA PELA FACULDADE DE ARQUITETURA, exatamente por ser um curso generalista, como por exemplo a graduação em medicina, cuja especialização só vem depois.

A falta de respeito do CAU está ainda na resolução nº 21, que tem o intuito de deixar como EXCLUSIVA  de arquitetos e urbanistas para fins de Registro de Responsabilidade Técnica o desenvolvimento Das seguintes atividades:
- Projeto de Mobiliário;
- Projeto de Mobiliário Urbano;
- Projeto de Design de Interiores;
- Projeto de Comunicação Visual para Edificações;
- Projeto de Comunicação Visual Urbanística;
- Projeto de Sinalização Viária;
- Execução de Adequação Ergonômica;
- Execução de Reforma de Interiores;
- Execução de Sinalização Viária;
- Execução de Mobiliário;
- Execução de Mobiliário Urbano;
- Execução de Comunicação Visual para Edificações;
- Execução de Comunicação Visual Urbanística.

Como já dito anteriormente e citando a nota de repúdio da Associação das Empresas e Profissionais de Design do Paraná “Muitas destas atividades sequer são contempladas por grades curriculares em vários cursos de Arquitetura e Urbanismo ao passo que fazem parte das grades curriculares dos cursos de Design. Nos parece que falta esclarecimento sobre o desenvolvimento dessas atividades por profissionais que não são arquitetos e urbanistas, deixando uma lacuna que pode variar de acordo com interpretação, o que não é coerente com um documento que visa eliminar dúvidas. Isto acontece também com o Anexo da Resolução Nº 51 que procura definir conceitos descritos na própria resolução e na Lei 12.378. Um exemplo claro é a inclusão da Comunicação Visual como parte integrante da Arquitetura de Interiores, e portanto atividade exclusiva de arquitetos e urbanistas. A Resolução nº 51 do CAU/BR em nosso entendimento, parece aproveitar-se da falta de regulamentação da profissão do designer, que encontra-se neste momento em tramitação no Congresso.”


Experiência pessoal

Como vivência pessoal posso afirmar com segurança que tais profissões não brigam entre si e que realmente lamento a postura de um presidente de Conselho agindo de maneira tão arbitrária e desrespeitosa. Sou jornalista há mais de 11 anos e há três anos formei-me também no curso de graduação superior em Design de Interiores, aqui em Brasília. Na época em que fiz a faculdade conheci, pelo menos, três colegas do curso de Design que cursavam ao mesmo tempo Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília e UniCEUB e a minha pergunta era sempre a mesma: são realmente grades/abordagens diferentes? Ao que elas respondiam: são totalmente distintas. Elas queriam já sair para o mercado com formação em Arquitetura e em Designer.

Durante dois anos trabalhei em um escritório de arquitetura e design e fui responsável juntamente com outras colegas pela seleção de diversos estagiários que passaram pela empresa. Ali também comprovávamos dia a dia que os alunos advindos do curso de Arquitetura e Urbanismo só conseguiam aprender sobre projeto de design de interiores e detalhamento de mobiliário no estágio. Claro que eles não sabiam detalhar e também não tinham a menor obrigação de saber fazer isso, pois tal atividade não era abordada na faculdade de arquitetura. Era ali no cotidiano que saiam do escritório tendo conhecimento da importância da composição de interior. Alguns candidatos a estágio que queriam trabalhar com construção de casas e edifícios (não que o escritório não fizesse também) eu já dizia logo: aqui a maioria dos projetos são de interior.

No período em que trabalhei nessa empresa, além de mim, havia mais três designers de interiores e quatro arquitetos (uma com formação nas duas áreas). Era um ambiente maravilhoso, de colaboração e de pura troca de experiências. Um dos donos do escritório foi meu professor no curso de Design de Interiores onde me formei.

Sempre digo que há profissionais bons e ruins em todas as áreas de atuação. No jornalismo vi muito colega picareta que só queria o diploma e não dava bola para o curso de Comunicação. No curso de Design conheci gente boa, comprometida, mas também vi muita gente ruim. Do mesmo modo acredito ser a realidade do curso de Arquitetura. Ninguém está livre de maus profissionais que saem por aí se auto intitulando os "tais", mas acho que o tempo e o mercado acaba sempre fazendo essa separação do joio e do trigo naturalmente.

É por isso que não entendo a postura do CAU, que deveria se preocupar em proteger os profissionais de Arquitetura e Urbanismo ao invés de interferir, perseguir e discriminar os profissionais de Designer de Interiores e criar uma verdadeira disputa entre as áreas. Espero realmente que meus amigos arquitetos não caiam nesse discurso fake do presidente do Conselho e consigam perceber o que há por trás disso tudo.

LEIA TAMBÉM:
Audiência discute regulamentação da profissão de designer de interiores. Mais uma vez CAU interfere

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Um comentário:

  1. Eu quero muito fazer o curso de Design, mas me preocupo muito, pois o que eu mais vejo é arquiteto fazendo trabalho que deveria ser de Designer. Parabéns pelo repúdio!

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